O Dilema de Putin: Entre Conquistas e Desafios
Após três anos do início de sua “operação militar especial” na Ucrânia, o presidente russo Vladimir Putin enfrenta um dilema crescente. Em público, ele aparenta otimismo. Afirma que conseguiu evitar que seu país mergulhasse no caos, defendendo o que ele considera essencial para a soberania russa. Para Putin, a guerra é uma questão de sobrevivência. Tal afirmação é acompanhada de números: o PIB da Rússia cresceu cerca de quatro por cento em 2024, e os salários têm aumentado, aparentemente acompanhando a inflação, que já supera nove por cento. No entanto, há muito mais por trás dessa fachada.
O Crescimento Ilusório
A despeito de um crescimento que parece promissor, o orçamento militar da Rússia dobrou nos últimos três anos, e a economia está sendo impulsionada majoritariamente por setores relacionados à guerra. A inflação, que é ainda mais alta no setor de consumo, tem deixado muitos cidadãos em uma situação financeira delicada. Mas, em geral, os russos parecem suportar essa realidade; pesquisas do Levada Center indicam que cerca de 75% da população ainda apoia a operação especial, uma demonstração de resiliência ou complacência?
Contudo, essa aceitação pode ser enganosa. O Kremlin tem exercido um controle crescente sobre a sociedade, enquanto permite que algumas esferas da vida privada permaneçam relativamente intocadas. A guerra, embora geradora de custos cada vez maiores, parece estar seguindo um caminho favorável para Putin. Ele afirma que as forças russas "libertaram" 189 localidades na Ucrânia em 2024, e tenta convencer a população de que suas novas armas são imbatíveis. Mas movimentos de descontentamento estão brotando, com muitos russos insinuando que a vitória deve ser acompanhada de um fim ao conflito.
A Perda de Poder e Influência
O uso desenfreado do poder militar trouxe perdas substanciais em termos de “poder brando”. Putin, numa tentativa de recriar um império russo, tem visto sua influência diminuir nas antigas repúblicas. O que antes era uma estratégia de distanciamento das fronteiras da OTAN, agora resulta no alarme do Kremlin de que a aliança está "às portas" da Rússia. Além disso, a economia não se sustenta unicamente por meio da militarização, mas sim pelo temor e pela insegurança que a guerra trouxe à vida cotidiana dos cidadãos.
O que se observa é que as demandas de segurança do Estado tornaram a vida dos russos mais precária: muitos passam seus dias temendo ataques de drones ou apreensões por parte das autoridades. A sociedade civil está em declínio, com grupos inteiros sendo perseguidos, enquanto a censura se alastra, sufocando qualquer forma de oposição.
O Futuro e a Busca por Resposta
Pensando no futuro, Putin enfrenta um enigma: reverter a militarização da economia e retornar à normalidade pode desestabilizar o sistema que sustenta seu governo. Para manter o que os sociólogos pró-governo chamam de "consenso do Donbass"—o apoio da maioria à ação militar—ele terá que sustentar a ideia de uma guerra contínua. Esse é o dilema que o presidente enfrentará em 2025: encerrar a guerra pode ser tão arriscado quanto continuar lutando.
Uma Nova Era na Geopolítica
Nos anos que antecederam a operação especial, Putin reviveu a antiga ideia da Rússia como a "Terceira Roma", buscando criar um estado ideal que dominasse um vasto espaço conhecido como "mundo russo". No entanto, esse sonho parece ter se desmoronado.
Um exemplo claro dessa falência é a nova frustração em torno da Síria, onde a intervenção russa já foi considerada uma vitória estratégica. Com a desintegração da aliança com o regime de Bashar al-Assad, Putin testemunha a perda de influência em um dos seus redutos. E a situação se complica ainda mais na relação com a Armênia, que, após uma guerra com o Azerbaijão, tem buscado estreitar laços com os EUA e a União Europeia, abandonando a moeda de troca de proteção russa.
Além disso, a Turquia, embora continue sendo um parceiro crucial na negociação de recursos, tem tomado posições contra os interesses de Putin, o que aumenta a vulnerabilidade russa na região.
As Repercussões Internas
Internamente, a administração Putin enfrenta enormes desafios. O colapso demográfico e a escassez de mãos de obra—resultado da emigração e do envolvimento militar de muitos nacionais—estão afetando certos setores da economia. Faltam professores nas escolas, médicos nos hospitais, enquanto muitos jovens são incentivados a se alistar nas forças armadas em vez de buscar carreiras civis.
A economia civil está em um estado preocupante, com setores como construção e transporte enfrentando dificuldades crescentes. O aumento dos preços e a inflação empurraram os cidadãos para uma realidade mais austera. Embora a indústria de defesa esteja em alta, isso não traduz um bem-estar para toda a população.
Estagnação e o Clamor pela Paz
À medida que a guerra avança, cresce o cansaço entre os cidadãos. Pesquisas de opinião revelam que uma fatia significativa da população, cerca de 57%, já clama por negociações de paz. No entanto, há uma condição predominante: a Rússia precisa manter os "novos territórios" adquiridos. Este desejo de paz poderia, paradoxalmente, ser um caminho para uma vitória ao evitar um prolongamento do conflito, mesmo que isso não signifique uma submissão total da Ucrânia.
Rajadas de apoio podem mudar com o novo clima político global, especialmente com a possibilidade de um retorno de Donald Trump à presidência dos EUA, o que gerou esperança entre alguns segmentos da população russa.
Reflexões Finais Sobre o Caminho à Frente
O ano de 2025 se aproxima com uma nuvem de incertezas sobre a cabeça de Putin. Ele deve encontrar um equilíbrio entre manter o controle e a ordem interna enquanto enfrenta pressões externas e uma população cansada. Se ele optar por uma abordagem de guerra fria—substituindo batalhas abertas por disputas mais sutis—sua liderança poderá ressoar com uma nova estratégia de sobrevivência.
A luta contínua pela relevância global e a busca pela grandeza imperial russa estão lançando sombras sobre a vida cotidiana, indo além de um simples confronto militar. Ao final, será que a busca incessante por poder e território valerá as consequências para a nação? A história de um império que desmorona sob o peso de suas próprias ambições nos convida a refletir: recursos, política e o espírito de um povo podem ser, na verdade, as chaves para uma paz duradoura e um futuro renovado.