domingo, dezembro 22, 2024

O Oriente Médio na Era Multipolar: Novos Atores e Desafios Regionais

O Oriente Médio tem passado por mudanças significativas nos últimos anos, à medida que novos atores surgem e alianças tradicionais são testadas. Neste artigo, vamos explorar a dinâmica em mudança do Oriente Médio no contexto de uma era multipolar. Vamos examinar os vários atores envolvidos, seus interesses e como esses interesses estão moldando o futuro da região.

O surgimento da multipolaridade no Oriente Médio

Historicamente, desde a Guerra Fria, o Oriente Médio tem sido dominado por uma estrutura de poder bipolar, com os Estados Unidos e seus aliados de um lado e a Rússia do outro. No entanto, nos últimos anos, um sistema multipolar tem emergido, com novos atores como a China e o Irã, afirmando sua influência na região.

A China, por exemplo, tem investido pesadamente no Oriente Médio, principalmente em infraestrutura de energia e projetos no setor da construção e logística. Também tem aprofundado seus laços com o Irã e outros atores regionais. Esses esforços têm sido vistos com desconfiança pelos Estados Unidos, que vê a crescente presença da China na região como uma ameaça aos seus próprios interesses.

O Irã, por sua vez, tem adotado uma política externa mais enérgica, buscando expandir sua influência regionalmente. Tem apoiado embates de procurações no Iraque, Síria e Iêmen e esteve envolvido em inúmeros conflitos em toda a região. Isso o colocou em rota de colisão com seu rival tradicional, a Arábia Saudita, o que resultou no aumento das tensões na região em um primeiro momento.

O papel da Rússia e dos Estados Unidos

Apesar do surgimento de novos atores, os Estados Unidos e a Rússia continuam sendo importantes players no Oriente Médio. Os Estados Unidos têm sido há muito tempo a potência hegemônica na região, com sua presença militar e extensa rede diplomática. No entanto, sua influência tem diminuído nos últimos anos, à medida que se envolveu em guerras caras e enfrentou críticas por sua condução do conflito israelense-palestino, e no acordo nuclear com o Irã, no que tange a posição alternada que sua política externa se altera, refletindo sua própria divisão interna.

A Rússia, por outro lado, vem aumentando sua presença no Oriente Médio, particularmente na Síria, onde tem apoiado o governo de Bashar al-Assad, desde a eclosão dos primeiros combates contra rebeldes insurgentes, que contavam com apoio americano, no contexto da primavera árabe. Também tem aprofundado seus laços com o Irã e outros atores regionais incluindo Israel.

China uma nova oportunidade avança para o Oriente médio

Com a crescente influência da China, a busca pela maximização de interesses econômicos e de segurança se tornou um grande desafio para muitos países da região, especialmente aqueles que historicamente dependem de relações estreitas com os Estados Unidos. A China tem se tornado o principal destino de boa parte das exportações do Oriente Médio e, tem buscado ativamente expandir sua presença econômica e diplomática na região. Além disso, a China tem se posicionado como um mediador em conflitos regionais, como o recente acordo entre o Irã e a Arábia Saudita, o que tem aumentado ainda mais sua influência na região.

No dia 6 de março de 2023, a China intermediou uma reunião entre representantes do Irã e da Arábia Saudita em Pequim. Apenas quatro dias depois, foi anunciado que as duas nações haviam decidido normalizar suas relações, um marco histórico com potencial para transformar o Oriente Médio.

O acordo entre Irã e Arábia Saudita representa um potencial divisor de águas na região, pois tem o poder de encerrar uma das rivalidades mais significativas do Oriente Médio e estender os laços econômicos por todo o Golfo. Além disso, o acordo pode aproximar o Irã de seus vizinhos árabes, ao invés de enfrentá-los em alianças opostas.

Esse acordo poderá realinhar as principais potências da região, substituindo a atual divisão entre árabes e iranianos, por uma complexa rede de relacionamentos e conectando a região aos objetivos globais da China. Para Pequim, esse anúncio representa um grande avanço em sua rivalidade com Washington.

O envolvimento da China no Oriente Médio tem sido crescente e pode ser uma das consequências mais preocupantes da aproximação entre Irã e Arábia Saudita. A China, que antes evitava se envolver na região, agora precisa assumir um papel diplomático para proteger seus interesses econômicos, principalmente em relação aos investimentos no âmbito da Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative). Além disso, a China vem expandindo sua presença econômica no Irã e apoiando o plano de Moscou de desenvolver um corredor de trânsito através do Irã, que permitiria o comércio russo chegar aos mercados globais sem usar o Canal de Suez o que, também, permitiria a China contornar o Estreito de Malaca, em face da grande armada que vem sendo criada pelos EUA e seus aliados. Com isso, a China está se preparando para desafiar a influência dos Estados Unidos na região, em busca de avançar nessas prioridades estratégicas.

A estratégia do Omni-alinhamento

Uma estratégia que os sauditas e outros parceiros dos EUA estão utilizando é a de buscar uma abordagem de “todas as direções são bem vindas” para suas relações internacionais. No Oriente Médio, além da Arábia Saudita, vários países, incluindo Bahrein, Egito, Kuwait, Catar e Emirados Árabes Unidos, são atuais ou potenciais parceiros de diálogo da Organização para Cooperação de Xangai (SCO), um grupo político, econômico e de segurança centrado na China, que é, às vezes, descrito como uma alternativa à OTAN. Além disso, a Arábia Saudita e o Egito expressaram interesse em se juntar ao BRICS, um grupo de países de mercados emergentes, do qual a Índia e a China são membros, apesar da crescente rivalidade entre si. A Turquia, o único país formalmente aliado aos Estados Unidos no Oriente Médio, também mostrou interesse em se tornar membro de ambas as organizações.

Com o aumento da rivalidade entre as grandes potências, os estados de menor porte se encontram em meio a demandas concorrentes. De um lado, a China exige apoio para suas políticas em relação a Hong Kong e Taiwan, enquanto os Estados Unidos tentam evitar o investimento chinês em infraestrutura e tecnologia 5G. Nesse cenário, a capacidade de ser visto como um parceiro plausível por ambos os lados pode se tornar uma vantagem valiosa, permitindo que um estado seja alvo de persuasão ao invés de sanções. Isso, por sua vez, pode ajudar a acalmar uma grande potência interessada a um custo relativamente baixo, sem provocar a outra.

Para muitos estados, a estratégia de omni-alinhamento também traz outras vantagens. Ao invés de serem não-alinhados, eles podem influenciar teoricamente a tomada de decisões dessas potências e desfrutar das vantagens do alinhamento, que podem aumentar se qualquer uma delas temer perder um parceiro para outra. O omni-alinhamento também serve como uma proteção contra a imprevisibilidade do comportamento desses países.

No Oriente Médio, onde o futuro do envolvimento e o choque de interesses entre EUA e China na região ainda é incerto, essa estratégia se torna ainda mais importante. Mesmo os parceiros mais próximos dos EUA no Oriente Médio encontram suas relações com Washington cada vez mais instáveis devido à política interna norte americana.

O Oriente Médio está passando por uma era de mudanças significativas, com novos atores emergindo e alianças tradicionais sendo transformadas. A crescente influência da China e da Rússia, a postura do Irã e as lutas internas das potências regionais estão moldando o futuro da região. Além disso, questões regionais como o conflito israelense-palestino e a luta contra o terrorismo continuam a desempenhar um papel importante na região. É importante que os países da região trabalhem juntos para enfrentar esses desafios e promover a estabilidade e a prosperidade na região.

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