### Desmistificando a Inequidade Econômica no Ocidente
Caminhando pelas redes sociais ou consumindo análises políticas, você logo se depara com uma verdade amplamente aceita: a desigualdade no Ocidente está em alta, a classe média parece estar perdendo seu espaço, e as democracias flertam com a oligarquia. Essa narrativa é atraente, pois se alinha com as incertezas do cotidiano, como o aumento dos preços das moradias, a ascensão vertiginosa das fortunas bilionárias e as lacunas nos sistemas de segurança social, expostas pela pandemia.
No entanto, é essencial olhar além dessa perspectiva. As alegações mais influentes sobre desigualdade frequentemente baseiam-se em interpretações parciais da história e medições limitadas dos padrões de vida. Quando analisamos a totalidade das economias modernas—incluindo impostos, transferências, direitos de pensão e a mobilidade entre faixas de renda ao longo da vida—o quadro se torna bem mais positivo do que muitos imaginam. As sociedades ocidentais não são tão desiguais quanto é frequentemente afirmado.
### A Necessidade de uma Avaliação Realista
É importante ressaltar que essa análise não deve levar à complacência. O acúmulo de poder econômico pode distorcer mercados e influenciar a política; ainda existem bolsões de pobreza em países ricos, e nos Estados Unidos, a disparidade de renda entre os mais ricos e o restante realmente aumentou. No entanto, ao surgirem apenas os casos mais visíveis de riqueza—como os fundadores de empresas de tecnologia ou gestores de hedge funds—perdem-se de vista transformações mais profundas e silenciosas. Atualmente, famílias de diversas faixas de renda têm acesso a capital de maneiras que eram impensáveis para gerações anteriores, e indicadores de bem-estar, como expectativa de vida e acesso à educação, melhoraram para quase todos.
Entender esses fatos é crucial, pois diagnósticos imprecisos resultam em soluções inadequadas. Se os governos acreditam que o capitalismo está inevitavelmente reproduzindo as desigualdades da era do Gilded Age, podem recorrer a confisco de riquezas e controles de preços, ou ainda aumentar os setores públicos, que já dependem de bases tributárias frágeis. Por outro lado, se a evidência aponta que as economias de mercado têm enriquecido a classe média pela expansão da posse de ativos, e que as fortunas dos empreendedores estão associadas a avanços que beneficiam o público em geral, então uma nova agenda pode surgir. Nela, os estados devem incentivar a ambição, proteger a concorrência e ampliar o acesso à construção de riqueza, garantindo que os serviços públicos complementem—em vez de sufocar—o progresso privado. Antes de tratar a desigualdade como uma crise existencial, é válido checar o termômetro.
### O Mito da Desigualdade Galopante
A narrativa dominante sobre a desigualdade, popularizada por economistas como Thomas Piketty, é frequentemente ilustrada por uma curva em forma de U. A ideia é que a concentração extrema de renda e riqueza entre uma elite restrita no início do século XX foi interrompida apenas pelas guerras mundiais e por impostos sobre o capital. Na virada para a liberalização dos mercados, em torno de 1980, uma nova onda de plutocracia surgiu. Gráficos que mostram a participação da alta renda em relação à renda total parecem confirmar essa tese: desde 1980, a fatia de renda do topo 1% disparou, especialmente nos Estados Unidos e no Reino Unido. Somando a isso o “boom” de bilionários e escândalos corporativos, a imagem parece completa.
Esse entendimento se apoia em três tipos de evidência:
1. **Dados de Declarações de Imposto**: Que rastreiam a renda de mercado antes dos impostos, revelando que os altos rendimentos capturaram ganhos desproporcionais da globalização e tecnologia digital.
2. **Pesquisas de Riqueza Familiar**: Que medem quem possui ações e imóveis, mostrando que, quando os preços dos ativos sobem, as carteiras dos ricos se expandem.
3. **Estatísticas Chamativas**: Como CEOs recebendo centenas de vezes mais que trabalhadores comuns, ou o fato de que um pequeno número de indivíduos possui riqueza equivalente à de metade da população mundial, que alimentam a indignação pública.
Porém, esse tipo de evidência apresenta limitações. Começar a contagem em 1980 é conveniente, uma vez que na época a desigualdade estava em níveis historicamente baixos, após décadas de impostos elevados e regulação estrita. Mesmo que os níveis atuais sejam mais altos do que nos anos 1970, ainda estão longe das altas concentrações observadas antes da Segunda Guerra Mundial, quando os impostos eram muito menores.
Ademais, estimativas de desigualdade de renda têm mostrado uma certa estabilização nas últimas duas décadas. Focar apenas na renda bruta ignora os impactos da tributação progressiva e, mais importante, o maciço investimento público em saúde, educação e pensões, que beneficia desproporcionalmente as famílias de baixa e média renda.
Estudos recentes sobre a distribuição de renda nos EUA, realizados pelos economistas Gerald Auten e David Splinter, demonstram que, ao corrigir a renda não reportada, as movimentações em contas de aposentadoria e as transferências sociais, a tendência mostra uma imagem significativamente mais equilibrada: a fatia do 1% sobre a renda após impostos é apenas ligeiramente maior hoje do que em 1960, muito abaixo das duplicações sugeridas pelas estimativas de Piketty.
### A Maré que Levanta Todos os Barcos
Os dados mais convencionais dizem apenas parte da história—e a parte menos favorável. Um número crescente de pesquisas reexamina a distribuição de riqueza a longo prazo, incluindo o que os estudos anteriores deixaram de fora. Aqui estão três descobertas fundamentais:
– **Crescimento da Riqueza**: O patrimônio privado disparou—mas o acesso a ele também. Balancetes nacionais reconstruídos para vários países europeus e os EUA mostram que a riqueza real por adulto triplicou desde 1980 e aumentou mais de sete vezes desde 1950. Uma parcela crescente dessa riqueza agora está concentrada nas casas e fundos de pensão de famílias comuns.
– **Redução da Concentração de Riqueza**: Na Europa, a parcela do 1% possui atualmente menos de um terço da parte que detinha em 1910, logo antes das transformações sociais e políticas que se seguiram. Desde a década de 1970, essa participação tem permanecido praticamente inalterada, apesar do aumento da riqueza real.
– **Movimentação entre Classes de Renda**: A mobilidade social deve ser considerada nas avaliações de desigualdade. Muitas análises anuais agrupam estudantes e aposentados de forma a ampliar a percepção das disparidades. Estudos que seguem indivíduos ao longo do tempo revelam que muitos dos que estão na base da pirâmide de renda conseguem escalar posições rapidamente.
### Um Olhar Crítico Sobre a Política Fiscal
Erros na leitura da desigualdade podem levar a sérios problemas. Isso desvia a atenção das questões reais que afetam as economias ocidentais: crescimento da produtividade lento, envelhecimento da população e as necessidades de adaptação às mudanças climáticas—desafios que pressionam os orçamentos públicos.
Além disso, uma abordagem excessivamente intervencionista e confiscatória pode inibir a formação de capital, dificultando o financiamento das soluções necessárias. Uma compreensão equivocada da desigualdade pode levar a uma regressividade nas políticas. Impostos sobre riqueza imobiliária podem impactar negativamente aposentados com ativos, mas sem liquidez, e tributar empresas privadas pode forçá-las a uma venda para gigantes multinacionais.
Portanto, uma leitura mais precisa dos dados sugere uma agenda equilibrada. É claro que a concentração excessiva de riqueza apresenta riscos—principalmente à integridade política. Regras transparentes para financiamento de campanhas são essenciais para evitar influência indevida do dinheiro. Os serviços públicos fundamentais, como ensino e saúde, não devem depender excessivamente de recursos privados, o que aprofundaria a desigualdade.
Os Estados devem celebrar o sucesso empreendedor e fomentar a concorrência, reduzindo os entraves regulatórios. A tributação sobre a renda do trabalho deve ser modesta, incentivando o trabalho duro e permitindo a acumulação de riqueza, enquanto a tributação sobre o capital deve se direcionar à renda, não à riqueza em si.
### Conclusão Atraente e Reflexiva
A jornada no tema da desigualdade nos leva a refletir sobre o verdadeiro progresso que a sociedade alcançou—a riqueza de milhões, cujos avós viviam sem acesso a bens básicos, é a verdadeira conquista do Ocidente. É vital que os formuladores de políticas não se deixem levar apenas por diagnósticos alarmantes, mas que cultivem as condições que tornam esse progresso possível: direitos de propriedade assegurados, mercados abertos e um setor público eficiente.
Se você se sentiu instigado por essa discussão sobre desigualdade e as nuances de sua interpretação, compartilhe suas opiniões e vamos dialogar sobre o assunto. Afinal, entender e agir em prol do progresso econômico é um esforço coletivo que envolve práticas e políticas que beneficiam a todos. Que vozes sejam ouvidas, e que a busca por um futuro mais próspero e equitativo continue!