terça-feira, abril 29, 2025

Por que a Nostalgia Está Concedendo um Coração Amargo à Política Externa dos EUA?


A Nova Direção da Política Externa dos EUA: Desafios e Oportunidades

Nos últimos anos, a política externa dos Estados Unidos tem enfrentado significativas incertezas, situando-se em um ponto de inflexão entre velhas tradições e novas realidades. A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais de 2016 revelou uma insatisfação profunda entre os cidadãos americanos em relação aos paradigmas estabelecidos que governaram a política internacional por décadas. Em particular, a ideia de que a ordem internacional, sustentada pela hegemonia militar dos EUA, era algo indiscutivelmente benéfico começou a ser questionada. À medida que nos aproximamos das eleições de 2024, essa insatisfação não parece ter desaparecido; ao contrário, pode-se afirmar que o consenso que antes vigorava está, de fato, morto.

A Crise do "America First"

A abordagem "America First" de Trump, muitas vezes confundida com uma política isolacionista, é, na realidade, uma forma de unilateralismo agressivo. Essa perspectiva reflete o que o cientista político Barry Posen chamou de "hegemonia illiberal", caracterizada por uma visão de Estados Unidos desnexados de normas e guiados por interesses próprios. Durante seu discurso na convenção republicana, o vice-presidente eleito JD Vance teceu uma narrativa que combinava sua experiência pessoal de desilusão com a guerra do Iraque e a falência das elites políticas. A falta de resposta adequada por parte dos democratas, que até mesmo buscaram o apoio de figuras controversas como Dick Cheney, abriu espaço para que Trump se apresentasse como o candidato pacifista, desafiando um sistema com o qual muitos americanos se sentem desconectados.

Nesse cenário, surge a necessidade de um novo modelo de política externa que vá além das opções limitadas: unilateralismo ou nostalgia por uma ordem internacional antiga. Renovar o liberalismo internacional vigente não servirá nem aos interesses dos americanos nem às expectativas das demais nações, que assistem com ceticismo aos apelos de Washington por uma "ordem baseada em regras". Para avançar, progressistas e democratas têm a responsabilidade de traçar um novo caminho.

A Relevância do Bem Comum

Toda política externa visa promover a segurança e a prosperidade de sua população. No entanto, em um mundo interconectado, onde desafios como mudanças climáticas e pandemias são problemas globais, a abordagem dos EUA precisa priorizar o bem comum. Isso implica que os Estados Unidos atuem em solidariedade com outras nações, considerando os impactos de sua política externa em cidadãos ao redor do planeta. Assim, promover a segurança e a prosperidade dos americanos deve andar de mãos dadas com a prevenção da insegurança e precariedade econômica em outras regiões.

Uma Mudança Necessária

Embora haja um crescente reconhecimento de que a política externa dos EUA precisa se distanciar de abordagens fracassadas, muitos membros da elite ainda se apegam à ideia de hegemonia militar. Essa mentalidade não apenas ignora as necessidades urgentes do povo americano, mas também restringe as liberdades civis. É preciso entender que a construção de uma democracia saudável e segura é inconciliável com a busca permanente por dominação global.

Os EUA, apesar da diminuição relativa de seu poder, continuam sendo a maior economia e força militar do mundo, com alianças e parcerias significativas que moldam a agenda global. Portanto, é crucial que Washington utilize sua influência para apoiar regras legítimas que ajudem a guiar as relações internacionais, em vez de se basear na pura força. Abordar desafios comuns requer uma abordagem mais sutil, reconhecendo que o engajamento global é essencial para defender os valores liberais e a segurança humana.

Avanços e Desafios na Administração Biden

A administração Biden tomou várias medidas em direção a uma nova abordagem, embora ainda não seja suficiente. Em um discurso de abril de 2023, o Conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, destacou a necessidade de afastar-se do modelo neoliberal de globalização, uma percepção tardia, mas importante. Diminuir a desigualdade econômica mundial por meio de regras comerciais mais justas poderia ter um impacto positivo significativo, não apenas para os trabalhadores americanos, mas também para comunidades em diversas partes do mundo.

Muitos países em desenvolvimento estão observando atentamente enquanto os EUA se afastam do neoliberalismo, enquanto suas economias permanecem aprisionadas por políticas de austeridade. Para promover um desenvolvimento real, é essencial reformar instituições como a Organização Mundial do Comércio e o Fundo Monetário Internacional, garantindo maior participação de nações de baixa renda em decisões que afetam seu futuro. Além disso, os EUA e seus aliados deveriam implementar um programa de alívio da dívida direcionado, libertando as populações de encargos insustentáveis impostos por governos corruptos e corporações multinacionais.

Construindo Uma Nova Ordem Global

No entanto, qualquer benefício de uma mudança na política econômica dos EUA pode ser desperdiçado se a abordagem continuar a ser filtrada pela competição estratégica. O Oriente Médio é um exemplo claro disso, onde a retórica de paz e normalização esconde um esforço frenético para manter a hegemonia americana. A busca de Washington por contrabalançar a influência da China e as ações de Iran e Rússia, em vez de estabilizar a região, alimenta tensões que podem levar a uma maior instabilidade.

A verdade é que os Estados Unidos podem buscar uma ordem global mais equitativa ou tentar manter sua primazia, mas não podem fazer ambas as coisas simultaneamente. Uma ordem que tenta consolidar a primazia americana é essencialmente antidemocrática e não beneficiará as populações mais marginalizadas dentro do sistema internacional. O chamado por uma retirada da hegemonia militar muitas vezes é mal interpretado como um movimento em direção ao isolamento, quando, na realidade, o que se busca é um engajamento mais responsável e inclusivo.

Perspectivas para o Futuro

Para realmente transformar a política externa dos EUA, é fundamental romper com o legado da "guerra ao terror". Embora Biden tenha recebido reconhecimento por encerrar a guerra no Afeganistão, a maneira como a retirada foi conduzida deixou muito a desejar e mancha sua administração. A redução de ataques com drones e, consequentemente, das baixas civis é um passo positivo, mas ainda há muito a ser feito.

As autorizações de uso da força militar, passadas em 2001 e 2002, continuam a permitir que forças americanas atuem em vários países. Essas autorizações precisam ser revogadas. Projetos como a National Security Powers Act, proposta por senadores como Bernie Sanders e Mike Lee, buscam restaurar a autoridade do Congresso sobre a guerra e implementar mudanças no processo de controle das exportações de armas.

Uma Nova Abordagem: Cooperar para Avançar

Ao fechar o capítulo da guerra ao terror, Washington deve evitar a tentação de designar um novo inimigo. A obsessão em derrotar a China em várias frentes internacionais não apenas é reativa, mas também desvia atenção e recursos dos verdadeiros desafios que demandam colaboração, como mudanças climáticas, migração irregular e crises de saúde pública. Os EUA devem focar na cooperação internacional, explorando áreas de interesse mútuo e buscando construir confiança através de iniciativas que beneficiem conjuntamente nações.

A Necessidade de Reformas Internas

Além disso, a renovação da política externa americana está intrinsicamente ligada à saúde da política interna. O sistema de financiamento de campanhas, que muitas vezes se assemelha a suborno legalizado, prejudica a democracia americana e limita a capacidade de liderança de novas vozes. O fortalecimento da democracia requer um compromisso com a responsabilização, tanto internamente quanto em políticas externas, garantindo que interesses corporativos não sobreponham as necessidades da população.

A construção de uma política externa que valorize a diplomacia e o respeito às normas internacionais é um passo essencial para restaurar a credibilidade dos EUA no cenário global. Essa abordagem permitirá um futuro mais seguro, próspero e livre para o país e o mundo.

Os Estados Unidos enfrentam decisões difíceis, mas é um momento oportuno para criar um futuro mais justo e colaborativo. O caminho para uma política externa transformadora exigirá coragem, liderança e um empenho genuíno em construir alianças que manifestem a essência da democracia e do progresso. É hora de os americanos refletirem sobre as escolhas que moldarão não apenas a política, mas o futuro do país no cenário global. O que você acha sobre essa nova abordagem? Quais mudanças você gostaria de ver na política externa dos EUA? Compartilhe suas opiniões e faça parte dessa conversa vital.

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