A Nova Realidade da Influência Russa no Oriente Médio
Nos últimos anos, a dinâmica de poder no Oriente Médio tem passado por transformações significativas. O presidente russo, Vladimir Putin, havia recuperado a influência da Rússia na região, especialmente após décadas de declínio. Ele estreitou laços com aliados históricos como Irã e Síria, ao mesmo tempo em que cultivou relações mais amigáveis com Israel e as monarquias árabes. Esse novo pragmatismo de Putin era visto como uma alternativa ao que muitos países na região consideravam uma abordagem ingênua e desestabilizadora dos Estados Unidos, focada na promoção da democracia.
A Questão da Segurança Regional
A estratégia russa se revelou benéfica tanto para Moscou quanto para seus aliados no Oriente Médio. A resposta neutra de líderes árabes à invasão em larga escala da Ucrânia em 2022 foi notável. Israel, um aliado próximo dos EUA, também evitou criticar a Rússia, mantendo-se afastado das sanções.
Entretanto, em um espaço de 20 meses, a popularidade da Rússia na região sofreu um golpe severo. A resposta militar de Israel aos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023 prejudicou significativamente a rede de resistência apoiada pelo Irã, a qual havia sido uma das ligações fortes da Rússia. O colapso do regime Assad na Síria e os ataques contra instalações nucleares iranianas por forças dos EUA e de Israel desmantelaram a imagem de Moscou como um protetor seguro na região. Agora, em um Oriente Médio em transformação, a presença russa já não é tão necessária.
Lições para o Ocidente
As falhas russas no Oriente Médio acendem um alerta para a China. Através da sua falta de apoio a aliados como o Irã e Assad em momentos críticos, a Rússia se revela um parceiro pouco confiável em tempos de crise. Para os Estados Unidos, isso se traduz em novas reflexões sobre a relação moscovita com Pequim; se a Rússia não apoia seus amigos no Oriente Médio, o que esperar dela em um possível conflito com a China sobre Taiwan?
A Retomada de Moscou
Após a queda da União Soviética em 1991, a Rússia deixou de ser um ator relevante no cenário internacional. O foco de Boris Yeltsin era a integração da Rússia em instituições ocidentais, enquanto Putin, assumindo a presidência em 2000, reverteu essa tendência. Ele se posicionou como um aliado dos EUA no combate ao terrorismo após os ataques de 11 de setembro, mas logo a relação se deteriorou com a invasão do Iraque.
A Primavera Árabe, em 2011, foi um divisor de águas. Enquanto líderes ocidentais viam a queda de ditadores como um avanço, Putin viu um risco iminente de instabilidade nas monarquias do Oriente Médio. Em um movimento estratégico, ele reforçou laços com Israel e os líderes árabes, capitalizando a insatisfação com a postura americana na região.
A Busca de Putin por Influência
A ascensão de Putin no Oriente Médio resultou em diversas parcerias:
- Alianças com autocratas: Com o apoio contínuo a Assad, a Rússia garantiu um ponto de presença vital no Mediterrâneo através de bases navais.
- Relação com Israel: Putin cultivou uma amizade com o primeiro-ministro Netanyahu, que compartilhava preocupações sobre a desestabilização da região.
- Papel no Oriente Médio: A Rússia se apresentava como uma alternativa ao Ocidente, fornecendo armas e apoio sem pregar sobre democracia e direitos humanos.
Com o início da guerra na Ucrânia, o apoio do Irã à Rússia, juntamente com a abordagem neutra da Arábia Saudita, solidificou a percepção de que Moscou poderia ser um aliado pragmático. No entanto, essa narrativa começou a se desmoronar com o ataque do Hamas e a subsequente resposta de Israel.
O Colapso da Influência Russa
Após os ataques de outubro, a resposta militar israelense desmantelou a hierarquia do Hamas e do Hezbollah, deixando a Rússia em uma posição incômoda. Ao invés de se comprometer com um lado no conflito, Putin tentou apresentar-se como mediador, uma abordagem que não encontrou ressonância em Tel Aviv.
Em dezembro de 2024, o colapso rápido do regime Assad refletiu mais uma falha na estratégia russa. Apesar de oferecer asilo a Assad, Putin não interveio efetivamente contra as forças rebeldes, levando a um enfraquecimento ainda maior do seu status na região.
Repercussões na Relação com o Irã
Com os ataques às instalações nucleares iranianas, a confiança na Rússia foi abalada. Líderes e comentaristas iranianos começaram a questionar as promessas de Moscou, expressando frustração por não receberem um compromisso militar quando mais precisavam. O sentimento de traição se espalhou, especialmente entre os aliados do regime iraniano.
Uma Nova Perspectiva Para O Oriente Médio
As reações no Oriente Médio foram diversas:
- Mudanças nas alianças: Israel agora apresenta desinteresse em mediadores russos e se aproxima novamente dos Estados Unidos, especialmente com um governo mais amigável em Washington.
- Sauditas e a nova realidade: Embora publicamente o governo saudita mantenha uma postura neutra, nos bastidores os líderes estão aparentemente satisfeitos com um Irã mais fraco e menos capaz de ameaçar seus interesses.
Reflexões Finais
A trajetória de Putin no Oriente Médio nos ensina algo crucial: a incerteza das alianças. O que parecia ser uma parceria promissora entre Rússia e países do Oriente Médio se desmoronou rapidamente, ressaltando a vulnerabilidade de se contar com um aliado imprudente em tempos de crise.
Nesse novo cenário, os líderes em Pequim devem observar com cuidado a fragilidade da relação com a Rússia. As evidências são claras: se a Rússia não pode ou não quer ser um bálsamo nas tempestades do Oriente Médio, será igualmente relutante em oferecer apoio em momentos de necessidade na Ásia.
A história da Rússia é um lembrete de que, na arena internacional, a confiança é uma moeda escassa. O que Putin construindo em anos de diplomacia no Oriente Médio agora se desfez, e a pergunta que fica é: quem realmente pode ser considerado um aliado em tempos turbulentos?