Nas últimas semanas, o setor financeiro global foi abalado pelo colapso de dois bancos regionais nos Estados Unidos: o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank (SB). Ambos enfrentaram problemas graves de alavancagem, especialmente em posições relacionadas à taxa de juros, levando à sua falência. O caso do SVB, com US$ 209 bilhões em ativos, e do SB, com US$ 111 bilhões, foi o maior desde a Crise Financeira Global de 2008, quando o Washington Mutual, com US$ 307 bilhões em ativos, também quebrou.
Em resposta, as autoridades americanas agiram rapidamente. O Federal Reserve criou um mecanismo para fornecer maior liquidez, enquanto o Tesouro e o Fundo Garantidor de Crédito se comprometeram a cobrir os ativos dos bancos, incluindo aqueles não segurados. Esse movimento teve o intuito de prevenir um efeito dominó no sistema financeiro e em setores economicamente dependentes dessas instituições, como o de tecnologia.
No entanto, o evento desencadeou um movimento de “risk-off” nos mercados, elevando a volatilidade e pressionando os títulos do Tesouro dos EUA e o índice S&P 500. Com isso, as expectativas para a política de juros do Fed também mudaram. Aumentos mais agressivos, como os 50 pontos base, foram descartados, e agora se discute uma elevação de 0 a 25 pontos base, ou até uma possível antecipação do ciclo de cortes.
O clima de incerteza aumentou com os recentes problemas no Credit Suisse, sugerindo que os efeitos do colapso podem se espalhar entre os mercados, principalmente nos EUA e Europa. As consequências imediatas desse cenário incluem um possível aperto no mercado de crédito, fortalecimento do dólar e condições financeiras mais rigorosas, o que pressionaria as projeções de crescimento e as políticas monetárias das principais economias.
Para o Brasil, porém, é pouco provável que os acontecimentos externos sejam determinantes para uma redução dos juros pelo Copom. O Banco Central tende a focar em fatores domésticos, como a trajetória da inflação e a sustentabilidade da dívida pública, para avaliar um possível afrouxamento monetário.
Se o governo brasileiro apresentar um novo arcabouço fiscal robusto, que melhore a trajetória da dívida em relação ao PIB, e o cenário de crescimento enfraquecido e aperto de crédito local se consolidar, o ambiente de riscos para a inflação pode melhorar. Esse quadro abriria espaço para uma potencial queda dos juros ainda no primeiro semestre, facilitando o alinhamento com as metas inflacionárias e ajudando a estabilizar o crescimento econômico.