A Revolução da Pecuária na Amazônia: O Caso de Roque Quagliato

Décadas de envolvimento na pecuária na Amazônia tornaram Roque Quagliato, conhecido como o “Rei do Gado”, uma figura proeminente, tanto admirada quanto criticada. As vastas fazendas de sua família, que proliferam na região, enfrentaram sérias acusações na década de 1990, incluindo a exploração de trabalhadores em condições análogas à escravidão e o desmatamento significativo no início dos anos 2000.

Entretanto, aos 85 anos, Quagliato ganha destaque por um novo capítulo na sua trajetória: liderar iniciativas para reformular a pecuária na Amazônia, um dos principais fatores responsáveis pelo desmatamento global. Com o foco crescente em práticas sustentáveis, ele se destaca no processo de transformação do setor de carne bovina no Brasil.

Rastreabilidade: Um Novo Caminho

O rebanho de Quagliato é pioneiro na utilização de tecnologia de rastreamento. Com a implementação de chips nas orelhas dos animais, ele contribui para um programa do governo do estado do Pará, que visa rastrear milhões de cabeças de gado até janeiro do próximo ano. Essa iniciativa ocorre em um momento crucial, logo antes da cúpula climática da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP30, que reunirá líderes mundiais em Belém.

Quagliato acredita que esses esforços podem reverter a percepção do mercado internacional sobre a carne brasileira. “O que esperamos é que, no final de tudo isso, o Brasil consiga um preço melhor no mercado global”, afirmou durante um leilão de gado recente. Ele também destacou a necessidade de responsabilizar os desmatadores, enfatizando que eles são agora vistos como um “caso de cadeia”.

Oportunidades de Exportação

O olhar atento de Quagliato se volta para mercados internacionais mais exigentes, como os Estados Unidos, Europa e Ásia. Muitos destes mercados, preocupados com práticas de saúde animal e desmatamento, costumam recusar a carne bovina proveniente do Pará. Contudo, o governo brasileiro tem se esforçado para abrir portas para países de alta demanda, como Japão e Coreia do Sul.

Renan Araújo, analista sênior da S&P Global, destacou que a melhoria no sistema de rastreabilidade é fundamental para estabelecer relações comerciais com essas nações.

Desafios e Avanços na Rastreabilidade

Atualmente, o estado do Pará possui um rebanho de 26 milhões de cabeças, um número comparável ao da Austrália. O objetivo é identificar todo o gado até 2027, buscando uma transformação significativa para o maior exportador de carne bovina do mundo. Entretanto, a implementação da nova legislação, aprovada no final de 2023, ainda enfrenta obstáculos. Até maio, apenas cerca de 12 mil animais haviam sido identificados individualmente pelos produtores.

Apesar das preocupações iniciais em relação à adesão da política, a participação de grandes produtores como Quagliato trouxe otimismo. Andy Jarvis, do Bezos Earth Fund, notou que a colaboração dos agricultores será crucial para o êxito da iniciativa, que poderá ser um divisor de águas na luta contra o desmatamento.

Medidas Eficazes Contra o Desmatamento

A necessidade de rastreabilidade não se resume apenas à conformidade legal, mas também representa uma estratégia eficaz para impedir que o gado proveniente de áreas desmatadas ilegalmente chegue às cadeias de suprimentos globais. Melhores práticas de rastreio poderiam oferecer uma ferramenta poderosa para as autoridades.

Embora a proposta de rastreabilidade individual não seja uma solução definitiva para a questão do desmatamento, ela representa um avanço significativo em relação ao que era imaginável há apenas alguns anos.

A Perspectiva da Pecuária Familiar

No entanto, muitos pequenos pecuaristas enfrentam receios. Por exemplo, Alaion Lacerda, com um rebanho de apenas 50 cabeças, navega em um mar de incertezas sobre as possíveis implicações da nova legislação. Assim como a metade dos criadores do estado, ele se pergunta se a nova lei poderá dificultar a venda de seus animais.

“A situação é preocupante”, compartilhou Lacerda. Ele observa que a maioria dos produtores na região carrega alguma forma de passivo relacionado ao desmatamento.

Medidas de Controle e Sustentabilidade

Satélites monitoram continuamente o desmatamento, permitindo que o governo e os frigoríficos identifiquem propriedades que desmatam ilegalmente. O novo sistema de rastreamento não só geolocaliza o gado, mas também permite um acompanhamento mais eficaz em caso de doenças.

Entretanto, Ricardo Negrini, procurador federal, destaca que o sistema ainda tem limitações. Os dispositivos de rastreabilidade podem falhar em evitar que o gado criado em áreas desmatadas ilegalmente seja apresentado como proveniente de fazendas legalizadas.

Desafios da Adaptação

Proprietários como Lincoln Bueno, que é chairman de uma exportadora de carne, expressam suas preocupações quanto ao cumprimento da nova legislação. Muitos deles estão adotando uma postura cautelosa, optando por adiar as ações até que os detalhes legais sejam mais claros.

Apesar das dificuldades, a iniciativa para rastreamento individual ganhou apoio de ambos os lados, dos frigoríficos e dos ambientalistas. A JBS, por exemplo, lidera com uma doação significativa de brincos de identificação para ajudar no programa.

“Acredito na possibilidade de sucesso”, disse Marina Guyot, do Imaflora. “Há vontade política, e isso é mais do que metade do caminho”.

O Futuro da Pecuária na Amazônia

Ainda que a transformação da pecuária na Amazônia dependa de diversos fatores, as iniciativas em andamento sinalizam um comprometimento em direção a práticas mais sustentáveis. O futuro da pecuária, especialmente para pequenos produtores como Lacerda, dependerá da capacidade de equilibrar a produção com a responsabilidade ambiental.

As discussões sobre reflorestamento e ostensiva observância das normas de rastreabilidade são fundamentais para atingir um equilíbrio saudável entre produção e proteção ambiental. Embora o caminho seja longo e repleto de incertezas, a mudança é não apenas desejada, mas necessária.

Conclusão Reflexiva

As revelações sobre a trajeto de Quagliato e as dinâmicas da pecuária no Pará servem como um alerta e uma inspiração. Enquanto desafios continuam a existir, a busca por práticas mais sustentáveis é uma jornada coletiva. Convidamos você a refletir sobre esses pontos e a compartilhar suas opiniões. A participação de cada um é fundamental para moldar um futuro onde crescimento e sustentabilidade caminhem lado a lado.