terça-feira, abril 29, 2025

Segredos Revelados: Jornalista Portuguesa Narra Histórias da Escravatura Através da Saga Familiar


O Legado do Tráfico de Escravos: Uma Conversa com Catarina Demony

No Dia Internacional em Memória do Tráfico de Escravos e sua Abolição, celebrado em 23 de agosto, a ONU News teve a oportunidade de conversar com a jornalista portuguesa Catarina Demony. Em sua narrativa, Catarina revela a conexão de sua família com o tráfico de pessoas escravizadas em Angola, um capítulo obscuro da história que merece ser revisitado.

A Descoberta de um Passado Impactante

Desde cedo, Catarina se questionava sobre as origens do patrimônio familiar que lhe conferia uma vida repleta de privilégios. No entanto, foi apenas aos 18 anos que ela obteve uma resposta: foi sua avó materna quem compartilhou a verdade impactante sobre os antepassados de Catarina e seu envolvimento no tráfico transatlântico de pessoas escravizadas.

Os Matoso de Andrade e Câmara: Um Nome Ligado ao Tráfico

Os antepassados de Catarina, pertencentes à linhagem Matoso de Andrade e Câmara, foram notórios comerciantes de pessoas escravizadas entre os séculos 18 e 19 em Angola. A família chegou a Angola no início do século 18, estabelecendo laços com autoridades locais e se envolvendo ativamente nas transações que compravam e vendiam pessoas escravizadas. Esse comércio familiar, que perdurou até cerca de 1840, resultou na acumulação de um vasto patrimônio, que foi transmitido de geração em geração.

Privilégios e Desigualdades: Um Reflexão Necessária

Catarina admite que os efeitos desse passado ainda reverberam em sua vida atual. Como ela mesmo diz: “O dinheiro que foi gerado pelo tráfico transatlântico não está na minha conta bancária, na dos meus pais ou da minha avó.” Apesar disso, os privilégios que a riqueza familiar proporcionou a permitiram acessar oportunidades que muitas pessoas na sociedade não tiveram.

“Esse status social que o dinheiro conferiu à minha família abriu portas e criou oportunidades. Isso, indiretamente, me beneficiou, e reconhecer isso é fundamental”, afirma a jornalista.

Revelando o Passado: O Documentário “Debaixo do Tapete”

Nos últimos anos, Catarina Demony se formou em jornalismo e aprofundou seus estudos sobre escravatura e colonialismo, percebendo a relevância de trazer à tona esse passado oculto. Assim nasceu o documentário “Debaixo do Tapete”, sob a direção de Carlos A. Costa, que discute o passado escravagista de Portugal.

O intuito do documentário é coletar testemunhos e fomentar diálogos sobre a escravatura em Portugal. Catarina destaca que foi um desafio encontrar pessoas dispostas a discutir esse tema. No entanto, um dos participantes, o músico Francisco Sousa, revelou que seu trisavô era proprietário de pessoas escravizadas na roça de São Nicolau, em São Tomé.

Uma Reflexão Global sobre a Escravatura

Enquanto países como Reino Unido, França, Estados Unidos e Brasil começam a confrontar suas histórias de escravatura e reconhecer como suas economias se beneficiaram desse trágico episódio, muitos ainda ignoram o peso desse legado.

A demanda por reparações históricas e culturais tem ganhado força internacionalmente, com a ONU sublinhando a urgência desse debate. De acordo com um relatório de 2023 do secretário-geral da ONU, António Guterres, nenhum país fez o devido reconhecimento do impacto contemporâneo da retirada violenta de milhões de africanos ao longo de séculos.

Reparando o Passado: Um Debate Necessário

Catarina defende que mais famílias devem assumir a responsabilidade de trazer à tona suas histórias e refletem sobre como podem contribuir para reparar os danos causados por esse passado doloroso. “Embora o passado seja irreparável, existem formas de combater as desigualdades que ele gerou”, afirma.

António Guterres enfatizou a necessidade de medidas de reparação que ajudem a superar gerações de exclusão e discriminação, convocando a sociedade a se unirem em prol da cura e da justiça.

O Dia Internacional da Memória: Comemorando a Luta pela Liberdade

O Dia Internacional da Memória do Tráfico de Escravos e sua Abolição foi instituído pela UNESCO para lembrar os eventos da revolta de 22 para 23 de agosto de 1791, quando africanos escravizados se rebelaram na ilha de São Domingos (hoje Haiti) em busca de liberdade e independência.

Esse momento histórico culminou em uma série de ações que levaram à abolição do tráfico de escravos, ressaltando o papel vital dos que lutaram pela liberdade. Desde a criação dessa lembrança, em 1997, a UNESCO continua a promover a história e os valores que emergiram dessa luta.

Conclusões e Chamado à Ação

A conversa com Catarina Demony nos convida a refletir sobre um passado que, embora enterrado, ainda influencia o presente. Ao desenterrar essas verdades, somos desafiados a confrontar não apenas nossa história individual, mas também a coletiva, reconhecendo os danos causados e buscando formas de consertar as injustiças.

Vamos nos unir nessa discussão? Pense sobre o seu próprio legado e como ele influencia a sociedade atual. Compartilhe suas reflexões sobre essa temática crucial e ajude a promover uma conversa que pode levar a mudanças significativas no futuro.

Sara de Melo Rocha é correspondente da ONU News em Lisboa.

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