O Papel do Brasil na COP 30: Oportunidades e Desafios para o Agronegócio
A próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, está marcada para acontecer em Belém (PA) em novembro deste ano e promete ser um evento marcante para o Brasil. Para o setor do agronegócio, essa conferência vai além de uma mera vitrine; representa uma chance essencial de apresentar soluções ambientais que sejam robustas e, ao mesmo tempo, viáveis economicamente.
Uma Agenda Coesa e Integrada
Recentemente, durante o painel “Agro na COP 30” no Global Agribusiness Festival (GAFFFF) em São Paulo, especialistas enfatizaram a importância de o Brasil chegar à conferência com uma agenda bem estruturada, integrada entre os setores público e privado. Temas como crédito de carbono, reflorestamento, bioeconomia e financiamento verde foram destacados como essenciais para essa construção.
Marcello Brito, secretário executivo do Consórcio Amazônia Legal, apontou que o Brasil tem uma grande oportunidade, mas reconheceu que houve uma falha em unir ambientalistas e representantes do agronegócio desde a escolha do país como sede. Apesar disso, ele se mostrou otimista com o aquecimento dos diálogos.
A Questão do Uso do Solo
Diferente de outros países, onde os principais emissores de gases do efeito estufa são os setores de energia e transporte, o Brasil enfrenta um desafio singular: a utilização de suas terras. Brito sugere que a COP 30 pode ser um trampolim para que o Brasil se posicione como líder em uma nova revolução agrícola, embasada na biotecnologia e na valorização da biodiversidade.
Transformando Florestas em Ativos Econômicos
Leonardo Mercante, diretor de Relações Governamentais da Suzano, ressaltou que o setor de papel e celulose tem se comprometido com práticas sustentáveis e pode apresentar soluções palpáveis. Ele mencionou que a Suzano planta 1,2 milhão de árvores diariamente, uma ação que resulta em uma significativa mitigação das emissões de carboneo.
“Entre 2013 e 2023, evitamos a emissão de 40 milhões de toneladas de CO₂, alinhando nossas ações ao compromisso ambiental da empresa. Mais de 40% da nossa dívida está atrelada a metas de sustentabilidade,” explicou Mercante.
A Necessidade de um Ambiente Favorável
Mercante também destacou que fortalecer o ambiente de negócios é fundamental para atrair investimentos sustentáveis e impulsionar o mercado de carbono no Brasil. O potencial é enorme, especialmente em áreas subutilizadas que poderiam gerar créditos ambientais, mas a burocracia e os entraves regulatórios ainda são um desafio significativo.
Urgência por Mecanismos Eficientes
Tanto Brito quanto Mercante alertaram para o impasse do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), que permanece inativo, mesmo após a aprovação da legislação que o institui. “Perdemos oportunidades valiosas enquanto o mundo avança na discussão sobre um tema em que o Brasil poderia prosperar,” lamentou Mercante.
Brito complementou que é crucial distinguir entre as emissões e as remoções de carbono, especialmente no agronegócio, para que mecanismos de compensação realmente funcionem. Ele também apontou que o agronegócio acaba arcando com os custos ambientais enquanto setores como o de transporte se beneficiam dos biocombustíveis.
A Medição e Recompensa das Emissões
“Temos consciência do que o agronegócio emite, mas ainda carecemos de métodos eficazes para mensurar o quanto remove. E, o que é ainda mais alarmante, não temos ferramentas financeiras que recompensem os produtores por estes esforços,” lamentou Brito.
Perspectivas para uma Transição Verde
Ambos os especialistas concordaram que a transição para uma economia verde só será viável se o retorno financeiro estiver presente. O capital global atualmente recua de investimentos filantrópicos e busca oportunidades que proporcionem retorno. Brito defende a criação de fundos retornáveis e políticas que estimulem a participação do setor privado, similar ao que ocorreu no passado com o financiamento agrícola.
Importância da Infraestrutura
“Para viabilizar o desenvolvimento sustentável, precisamos tratar a economia verde de forma pragmática. Sem retorno sobre investimentos, o capital simplesmente não aportará. Além disso, sem infraestrutura — especialmente na Amazônia — qualquer plano de desenvolvimento permanece como um sonho distante,” afirmou Brito.
Mercante também ressaltou que os títulos sustentáveis podem ser uma solução para empresas que ainda não têm a tecnologia necessária para atender a metas ambientais. “A Suzano, por exemplo, é autossuficiente em energia, mas enfrenta sérios desafios logísticos. É precisamente nesse ponto que os títulos sustentáveis podem fazer a diferença,” destacou ele, referindo-se a um investimento substancial de R$ 22 bilhões em Mato Grosso do Sul.
Reflexões Finais
A COP 30 se aproxima e traz consigo uma série de oportunidades e obstáculos que podem remodelar o agronegócio brasileiro. É um momento crucial para que o Brasil mostre ao mundo seu potencial de liderança e inovação em questões de sustentabilidade.
Com um diálogo aberto, uma agenda bem definida e mecanismos concretos, o Brasil poderá não apenas apresentar suas soluções durante a conferência, mas também iniciar uma nova era para o agronegócio — uma era que valoriza não só a produção, mas a responsabilidade ambiental.
Convidamos você, leitor, a refletir sobre o que essa conferência significa para o futuro do nosso país e do mundo. O que você acha que pode ser feito para garantir que o agronegócio brasileiro lidere a transformação em direção a uma economia mais sustentável? Compartilhe suas opiniões e contribua com este importante debate.