O Impacto das Tarifas no Mercado de Luxo nos EUA
Uma Nova Era de Desafios
Há aproximadamente um mês, os gigantes do setor de luxo estavam apostando numa reviravolta positiva: esperavam menos regulamentos, impostos reduzidos e um mercado financeiro em ascensão. A ideia era que compradores endinheirados se jogariam em compras extravagantes — de vestidos de gala a relógios sofisticados. Contudo, a realidade moldada pela administração Trump trouxe desafios inesperados com a implementação de tarifas de 20% sobre produtos da União Europeia.
Essas tarifas alteram diretamente a dinâmica do mercado americano e colocam as marcas de luxo diante de um novo cenário. Imagina-se agora um futuro onde icônicas bolsas Chanel e relógios Rolex se tornem não apenas mais caros, mas também mais difíceis de se encontrar. Os consumidores americanos responsáveis por 24% do total global de gastos com itens de luxo, totalizando cerca de US$ 1,62 trilhões, podem ver esses preços subirem, afetando seu comportamento de compra.
O Desafio das Marcas de Luxo
Euan Rellie, cofundador do banco de investimento BDA, expressou sua preocupação: "Os EUA deveriam ser o pilar da indústria de bens de luxo, mas a administração Trump decidiu não colaborar. O cenário é complicado para o luxo”. O mercado já enfrentava dificuldades — desaceleração nas vendas na China, recessão na Alemanha e o envelhecimento da população no Japão. Agora, as incertezas que rondam o enorme mercado americano adicionam uma camada extra de complexidade.
As marcas, engajadas na adaptação a esse novo panorama, hesitam em discutir abertamente como as tarifas poderiam impactar seus negócios. A gigante LVMH, que detém marcas icônicas como Dior e Louis Vuitton, optou por manter silêncio, mesmo sabendo que os EUA representaram 25% de sua receita em 2024.
A Reação do Setor
Notável é o fato de que as associações mais afetadas, como Burberry e Chanel, também se abstiveram de comentar sobre essa nova realidade. Doug Hand, advogado especializado no setor da moda, revelou que os empresários do ramo estão preocupados: "Eles estão roendo as unhas e puxando os cabelos". Para muitos, o cenário é de impasse e incerteza, com investidores como Andrew Rosen observando que "é difícil prever o custo das mercadorias no próximo mês".
Uma característica importante das marcas de luxo é sua capacidade de absorver alguns custos, além de negociar melhores condições com fornecedores. No entanto, análises do setor indicam que, caso as tarifas permaneçam em vigor, os preços das mercadorias subirão.
O Que Esperar?
Luca Solca, analista sênior da Bernstein, sugere que as mudanças no cenário político dos Estados Unidos podem ser voláteis. "A política nos últimos meses foi selvagem. É possível que coisas mudem, que um acordo seja alcançado com a UE". Não obstante, a busca por novos locais de manufatura nos EUA parece improvável. Conversas recentes com executivos de marcas revelaram pouca disposição para estabelecer fábricas de vestuário no país.
Brunello Cucinelli, fundador de sua marca homônima, enfatizou que "Made in Italy está no cerne da nossa identidade", reafirmando sua conexão inabalável com suas raízes italianas.
Desafios Históricos da Indústria
Historicamente, a indústria da moda nos EUA era substancialmente diferente. Nos anos 50 e 60, cerca de 98% das roupas vendidas no país eram produzidas localmente. Hoje, a cifra está reduzida a meros 2%. Reconstruir uma indústria de vestuário viável levaria anos, como observa Denise N. Green, professora associada da Universidade de Cornell. Até as marcas que fabricam localmente dependem de insumos importados, o que torna as tarifas uma inflação direta nos preços para o consumidor final.
Para Andrew Rosen, as tarifas representam mais do que um imposto sobre empresas estrangeiras: "Não é um imposto sobre países — é um imposto sobre empresas americanas e consumidores americanos".
O Consumidor de Luxo e Suas Dinâmicas
Surpreendentemente, mesmo que parte do público consumidor de luxo consiga arcar com aumentos de preços, a percepção sobre gastos excessivos pode ser prejudicada por um clima de insegurança financeira. Achim Berg, da Fashion Sights, destaca que aproximadamente 70% dos consumidores de luxo são "clientes abastados e aspiracionais", que podem não estar dispostos a gastar desnecessariamente em tempos de incerteza econômica.
Isso levanta outra questão: o futuro do consumo de luxo pode depender de como a confiança do consumidor será mantida. A forma como as marcas se posicionam em épocas de crise poderá influir diretamente em suas vendas.
Mudanças de Comportamento
Os custos adicionais decorrentes das tarifas são uma continuação de uma tendência de aumento de preços que já afeta o setor. Apenas para ilustrar, as bolsas da Chanel mais que dobraram de preço entre 2016 e 2023. Isso pode criar uma percepção negativa a respeito das marcas de luxo, como observa Claudia D’Arpizio, da Bain & Co. Ela menciona que essas marcas já enfrentavam um período em que precisavam recuperar a confiança dos clientes.
E, mesmo que a demanda por itens de luxo continue, os "vencedores" desse novo cenário podem ser diferentes do que se esperava. Negócios de revenda de artigos de luxo, por exemplo, podem se beneficiar dessa situação. O aumento no interesse por produtos vintage, como bolsas de designer e relógios, pode representar uma nova oportunidade para o mercado.
O Despertar do "Luxo Silencioso"
Além disso, alguns analistas prevêem uma ressurreição do "luxo silencioso", uma abordagem menos ostentosa que remete à estética pós-recessão de 2008. “Mesmo aqueles que ainda podem pagar por luxo podem sentir vergonha de exibir suas compras”, diz D’Arpizio, refletindo sobre o fato de que o consumismo ostentativo pode dar lugar a uma busca por produtos que não chamem a atenção.
Considerações Finais
A intersecção entre política, economia e comportamento de compra no setor de luxo é complexa e envolvente. As atuais tarifas e restrições comerciais podem mudar não apenas a forma como as marcas operam, mas também como os consumidores percebem e se relacionam com o luxo.
As próximas etapas para o setor serão cruciais. Estamos em um momento de transição que pode redefinir o que significa consumir bebês de luxo em um mundo em constante mudança. Assim, convidamos você, leitor, a refletir sobre como essas mudanças afetam seus pensamentos e suas escolhas de compras. O que você acredita que vai acontecer com o futuro do mercado de luxo? Compartilhe suas opiniões e junte-se à conversa!