A economia chinesa está bem perto de ultrapassar a dos EUA e muitos se perguntam se o yuan será o próximo concorrente ao dólar como a moeda global dominante. Uma vez que uma moeda se estabelece, é muito difícil de ser substituída, mesmo que seja uma economia poderosa como a da China que o faz. Isso foi demonstrado quando, apesar dos choques da crise de crédito em 2007, o comportamento dos investidores em todo o mundo ainda favoreceu o dólar. Em 2019, o dólar foi utilizado em quase 90% dos negócios de câmbio e, atualmente, representa cerca de 59% das reservas cambiais globais. No entanto, a recente guerra da Rússia contra a Ucrânia pode ter um impacto no status do dólar como moeda global.
Sanções foram impostas contra a Rússia que, combinadas com a apreensão de ativos privados de oligarcas russos, efetivamente neutralizaram metade das reservas cambiais da Rússia. Isso é significativo, porque muitos bancos centrais, especialmente nos mercados emergentes, mantêm essas reservas para salvaguardar o valor e a capacidade de troca de suas próprias moedas. Isso levou Pequim e outras economias emergentes a se preocuparem com sua própria dependência do dólar.
Desde a crise de 2008, a China tem questionado o papel do dólar e chegou a aventar a ideia de uma moeda “super-soberana” para transações internacionais. A China parece ter se resignado a usar a moeda dos EUA internacionalmente, com o Ministério das Finanças vendendo títulos soberanos em dólares nos últimos anos, para dar às empresas chinesas benchmarks para os custos de empréstimos offshore. Os bancos chineses detêm mais de US$ 1 trilhão em depósitos em dólares, a China possui mais de US$ 1 trilhão em títulos do Tesouro dos EUA e os mutuários chineses têm cerca de US$ 534 bilhões em títulos em circulação.
Porém, a situação com a Rússia pode mudar as coisas. Os EUA isolaram a Rússia, barrando transações com seu banco central e trabalharam para limitar o acesso das instituições financeiras russas ao sistema SWIFT, usado em pagamentos transfronteiriços. A Rússia é a 11ª economia do mundo, mas a ação dos EUA contra ela pode ser vista como um alerta para outros países de que a dependência excessiva do dólar pode ser perigosa.
A China é a economia que tem o potencial de desafiar a hegemonia da moeda americana, em virtude da grande quantidade de parcerias estratégicas que vem desenvolvendo, principalmente, no âmbito da Belt and Road Initiative (BRI). Nesse interim, a crise na Rússia pode ser o catalisador ideal para mudanças mais significativas no cenário financeiro global.
Um possível resultado dessa crise é que os países de economias emergentes se unam para criar um sistema alternativo de pagamentos internacionais que não dependa do dólar. Isso pode significar o aumento da utilização de moedas locais, como o yuan chinês, o rublo russo e o real brasileiro, para transações internacionais.
Entretanto, é importante lembrar que a hegemonia do dólar é resultada de muitos fatores, incluindo a força da economia americana e o papel dos Estados Unidos no cenário geopolítico global. Substituir o dólar como a moeda dominante pode levar décadas e, por si só, ser algo impraticável neste século.
De fato, a crise na Rússia está alimentando o debate sobre a moeda de reserva global e as possíveis implicações para o sistema financeiro internacional. Embora a China seja a economia que poderia apresentar o potencial de desafiar a hegemonia do dólar, ainda é preciso que diversos fatores se alinhem em um cenário muito complexo para vermos um real risco a hegemonia da moeda Americana.
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