
REUTERS/Kira Duarte
Embrapa: Pioneirismo no Cultivo de Cannabis no Brasil
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), reconhecida por sua contribuição na transformação do Brasil em uma potência agrícola, está prestes a embarcar em uma nova e empolgante jornada: a pesquisa e cultivo de cannabis. O objetivo é alavancar o setor com o mesmo impacto que já teve com outras culturas, como soja e algodão.
Desenvolvimento de Programas de Pesquisa
Os especialistas da Embrapa estão focados na pesquisa de variedades de grãos, algodão e vegetais que sejam mais adequados ao clima tropical brasileiro. Eles esperam que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprove ainda neste ano um ambicioso programa de pesquisa sobre a cannabis, que se estenderá por 12 anos.
“Imagine se já estivéssemos realizando o melhoramento genético dessa planta, como fizemos com o algodão ao longo das últimas cinco décadas?”, questiona Daniela Bittencourt, pesquisadora da Embrapa. Essa visão pode abrir portas não só para o cultivo, mas também para o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias.
Planejamentos e Parcerias
Entre os objetivos do projeto, destaca-se a criação de um banco de sementes de cannabis e a adaptação de diferentes variedades para o solo brasileiro. Além disso, a Embrapa pretende identificar e estabelecer centros regionais para a produção de cannabis, ao redor do país.
Bittencourt revelou que cerca de dez empresas, tanto nacionais quanto internacionais, já demonstraram interesse em colaborar com a Embrapa em pesquisas sobre cannabis. O foco dessas empresas vai desde a fabricação de medicamentos e alimentos até a exploração do potencial da planta para rotação de culturas e a fixação de carbono no solo.
Um Passo em Direção à Modernidade
O histórico da Embrapa de pesquisas bem-sucedidas na década de 1970 possibilitou a expansão do cultivo de soja no Brasil, resultando em um aumento de dez vezes na produção do grão, tornando o Brasil o maior fornecedor mundial de soja. A proposta de pesquisa sobre cannabis carrega a expectativa de um impacto semelhante.
A Nova Era do Cannabis Medicinal no Brasil
Em novembro de 2024, uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) autorizou o cultivo de cannabis para fins medicinais no Brasil. Essa decisão determinou que a Anvisa tem até maio para elaborar a regulamentação necessária. Um julgamento recente analisará o pedido da Anvisa para prorrogar esse prazo por mais seis meses.
Atualmente, a comercialização de maconha para uso recreativo permanece proibida no Brasil, ao contrário de países como Uruguai e Canadá, que incentivaram suas indústrias de cannabis. Porém, a decisão judicial permitiu o cultivo de cânhamo, uma variedade de cannabis com baixo teor de THC (menos de 0,3%), adequada para a extração do canabidiol (CBD), amplamente usado em medicamentos, além de suas fibras, que têm diversas aplicações na indústria.
O Papel do Cânhamo na Indústria Brasileira
Kiara Cardoso, fundadora da DNA Soluções em Biotecnologia e uma das principais vozes na luta pelo cultivo de cannabis, acredita que a produção em larga escala de cânhamo no Brasil pode atender setores como papel, têxtil e alimentação. No entanto, as normas atuais de cultivo ainda impõem restrições ao uso de pequenos espaços internos, rigorosamente controlados, semelhantes aos padrões do setor farmacêutico.
Inspeção do Mercado Internacional
A China, que é o maior parceiro comercial do Brasil, destaca-se como o líder mundial na produção e exportação de cânhamo, de acordo com estudos acadêmicos. Além disso, países como França e Paraguai também já aprovaram o cultivo da planta, tanto para fins industriais quanto medicinais.
Transformações e Oportunidades no Setor de Cannabis
A entrada da Embrapa no cenário da pesquisa sobre cannabis representa não apenas a inovação no agronegócio brasileiro, mas também um potencial significativo para a economia do país. Ao diversificar a produção agrícola e incorporar a cannabis em sua estratégia, o Brasil pode abrir novas fronteiras de mercado e criar empregos.
Além disso, a produção de cannabis para fins medicinais pode proporcionar acesso a tratamentos inovadores e melhorar a qualidade de vida de milhares de pacientes. Há uma expectativa crescente de que as políticas possam se ajustar para permitir um ambiente mais favorável ao cultivo e ao uso responsável da planta, fomentando um novo setor econômico.
Desafios e Perspectivas Futuras
É importante considerar os desafios que acompanham essas mudanças. A legalização e regulamentação do cultivo e uso medicinal da cannabis exigem educação, sensibilização e a superação de preconceitos. O conhecimento sobre a planta e suas aplicações medicinais deve ser disseminado, garantindo que a população esteja bem informada e que o setor se desenvolva de maneira ética e responsável.
Outra questão fundamental é a elaboração de regulamentações que garantam a qualidade e a segurança dos produtos derivados da cannabis, protegendo tanto o consumidor quanto os produtores. Para os pesquisadores e empreendedores, essa é uma oportunidade de trabalhar em conjunto com o governo e outras entidades para criar um marco regulatório sólido.
Um Futuro Promissor
Por fim, a jornada da Embrapa em direção ao cultivo de cannabis representa um capítulo empolgante na história agrícola do Brasil. À medida que a pesquisa avança e novas regulamentações são implementadas, as possibilidades se ampliam para o Brasil ser um player global no mercado de cannabis medicinal e industrial.
Os próximos anos serão cruciais para moldar o futuro desse novo setor. Com a colaboração entre instituições de pesquisa, o governo, empresas e consumidores, é possível construir um ecossistema robusto e sustentável que não apenas traz benefícios econômicos, mas também contribui para a saúde e bem-estar da população.